Colunista:
Floreando, por Milton Lodi 24/05/2012 - 13h14min
PREMISSAS NEM SEMPRE CORRETAS
No turfe brasileiro, há premissas nem sempre respeitáveis que são entendidas como práticas determinantes, a serem seguidas fielmente.
Uma delas é que um animal que leve boa vantagem de peso dos adversários deve impor o ritmo do páreo, correr na frente de preferência e forçar um train forte. Quando o animal mais leve é da mesma força dos adversários, isso normalmente é correto, pois em princípio os com pesos maiores devem cansar mais cedo. No entanto, se o mais leve não tem em princípio o mesmo poderio locomotor dos outros, forçar a corrida é diminuir as suas chances, e a vantagem no peso serve no caso para equilibrar, equilíbrio que é desperdiçado com um ritmo acima de suas naturais forças. Quem gosta de correr atrás e atropelar na reta, desrespeitando as suas características e correndo na frente para forçar o ritmo diminui suas chances. Isso é teórico, não é matemática, ciência exata, mas um raciocínio lógico em função da experiência. Outro aspecto é que aquele que tem como característica correr atrás e vai mais leve, na reta vai ter mais facilidade para descontar, pois carregando menos peso fica mais fácil, ou menos difícil. No entanto, se o ritmo não é forte, não há porque correr longe, pode ou deve correr mais perto. É comum ver–se animais de menor poderio, por levarem vantagem no peso, desperdiçarem as suas chances impondo ritmos verdadeiramente suicidas.
Outro caso enganoso é nos páreos de velocidade, basicamente os de 1.000 metros. A não ser no caso de um animal superior à turma, a idéia de tomar a ponta e acelerar ao máximo é normalmente desastrosa. Um cavalo normal e em boas condições consegue correr com o máximo de sua velocidade até 800 metros, que são percorridos sem respirar, de um fôlego só. Assim, normalmente faltando mais de 200 metros os pulmões não agüentam mais, há que respirar e ai há uma diminuição do ritmo acelerado. É nesse momento que aqueles que acompanham nas colocações próximas do ponteiro totalmente acelerado, ultrapassam e ganham os páreos. Correr 1.000 metros de ponta a ponta é para corredores superiores, melhores que a turma, os ganhadores dos páreos de 1.000 metros correm só acompanhando na primeira metade do percurso, e aí então são exigidos para pegarem os ponteiros nos últimos 200 metros, quando os acelerados têm que diminuir para respirar. Assim faziam e fazem os campeões de velocidade Mensageiro Alado e Desejado Thunder. Mas quem acha que tem um super campeão, mais veloz e melhor que os outros, que tome a ponta e venha embora. Também a idéia de largar pela baliza um não é boa. Quem larga na um tem que acelerar para não ser tapado, o melhor é largar mais por fora para poder ditar o ritmo mais conveniente e na reta atacar, e não ser atacado. A premissa de que em páreos curtos há que acelerar ao máximo desde a largada pode ser boa só para penqueiros.
Outra idéia errônea é que páreos de distâncias maiores devem ser corridos atrás. É exatamente o contrário, quem corre atrás, além de um desgaste normalmente maior em função de um percurso maior, tem na última reta de descontar a diferença para os ponteiros que ficam muitas vezes inalcançáveis. Não é obrigatório correr na frente, mas perto dentro da perspectiva de um ritmo adequado que lhe permita forças suficientes para descontar a desvantagem. Repito que corrida não é matemática, é uma prática difícil e complexa, mas há que raciocinar.
A combinação do ritmo adaptado às características do cavalo representa o fio da meada. Quartier Latin tinha boa velocidade, mas diminuía na reta. Montado pelo lendário Luiz Rigoni, o mestre dos mestres, ganhou 4 milhas internacionais, 2 G.G.P.P. Presidente da República em Cidade Jardim e mais 2 na Gávea, sempre correndo em último e atropelando na reta. Quando o extraordinário chileno Luis Dias estreou na Gávea recebeu instruções para correr atrás e atropelar na reta. Cerca de 100 metros após a partida, ele tomou a ponta, imprimiu um ritmo que lhe era favorável, e na reta acelerou, vencendo por vários corpos. Perguntado pelo treinador porque contrariara as instruções, o espetacular chileno disse que o ritmo era falso, iam muito devagar, de modo que ele correra atrás mais na frente.
Certa vez, ouvi um treinador dizer ao jóquei que a égua que ele ia montar costumava correr entre 3º e 4º nos habituais páreos de 1.300 metros, e que terminava sempre bem perto, mas não ganhava. Como daquela vez seriam 1.600 metros, ele deveria correr mais atrás, entre os últimos, e atropelar na reta. O resultado da ordem cumprida naturalmente foi muito ruim, à época chegou em 5º. A ordem foi errada, na distancia aumentada a égua deveria ter corrido mais perto, pois o desgaste em um percurso maior, de 1.300 para 1.600, faria a égua entrar na reta mais cansada e ainda mais longe do que o costume. A desastrada ordem determinou grande diminuição nas chances de vitória.
As premissas têm que ser analisadas, é necessário entendê–las. Além do mais, em páreos comuns o ritmo em 1600 metros é menos forte que em 1.300 metros. Há que raciocinar.
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