









Colunista:
Floreando, por Milton Lodi 10/05/2012 - 11h09min
GUERRA DE DROGAS
No dia 07 de março de 2012, a publicação turfística norte americana Thoroughbred Daily News, assinada pelo lá conceituado jornalista Bill Oppenheim, um artigo com mais um sinal de alerta para o turfe do país. Com o título de “Drug Wars” (Guerra de Drogas), o articulista chama a atenção para o fato de que lá o turfe está ficando sozinho e isolado do resto do mundo. E, que já tinha se passado a época, em que os Estados Unidos podiam ditar as regras para todos os outros países em que se pratica o turfe.
No plano internacional já havia um boicote evitando negócios com animais norte–americanos. Os japoneses, por exemplo, já estão se limitando a comprar produtos de 2 anos, que ainda não tiveram tempo para serem habitualmente medicados com frequência. A continuar a absurda permissibilidade de medicações, o turfe norte–americano terá que se satisfazer com o seu mercado interno, pois o resto do mundo não interessa comprar animais dependentes de drogas, de cavalos de segunda classe. A maioria dos homens de cavalo dos Estados Unidos ainda não entende a realidade, acha que o mercado interno é suficiente. Como nos Estados Unidos cada Estado tem suas próprias legislações, quando em um há restrições, os cavalos vão para outro mais flexível. Na opinião do articulista, esse é um problema importante. Para resolver o problema teria que haver uma legislação geral, nacional, e bem restritiva para tentar conter o declínio da qualidade e da saúde dos cavalos dos Estados Unidos.
Na edição de 29 de março de 2012, o New York Times disse que a entidade nacional que é a responsável pelo setor nos Estados Unidos, o chamado The Jockey Club, propõe o banimento de drogas nos dias de corridas, entende de uma severíssima punição em casos de primeira transgressão e banimento do turfe em caso de reincidência. A proposta é pela linha européia, onde a incidência de mortes é muito menor que nos Estados Unidos.
No Estado do Novo México, as autoridades hípicas já começaram a se mexer, já está proibida a medicação nos dias de corridas. Em 2012, nos páreos para produtos de 2 anos no Meeting da Breeder’s Cup já valerá essa proibição, e a partir de 2013 essa proibição vai se estender para todos os páreos da Breeder’s Cup.
Consertar o que há de errado no turfe norte–americano vai ser muito difícil, e mesmo assim demoraria muitos anos. O fantástico arsenal farmacêutico não vai aceitar com serenidade a redução de seus altos lucros e, certamente, contratará políticos para obstacular novidades. Os Estados que de início seguirem as novas regras serão boicotados e seus cavalos migrarão para Estados matungos. A qualidade técnica da maioria dos treinadores de lá é rasteira, essa maioria entende que, sem remédios os cavalos não ganham. Deve ou pode haver uma retração por parte dos proprietários, pois pais e mães sangradores têm maior possibilidade de gerar filhos sangradores, que devem ou pode depender de drogas então proibidas.
O que ainda salva a situação do turfe norte–americano, com todos os seus muitos e múltiplos erros, é a riqueza do país. Mesmo com o indiscutível declínio, com um padrão menor na qualidade e na saúde dos animais, mesmo com as crescentes retrações que encontra nas suas exportações, mesmo com muita coisa importante contra, os negócios se mantém a base de muito dinheiro, investido na atividade.
Há quem alvitre que a morte de cavalos de corrida nos hipódromos dos Estados Unidos é da ordem de 24 por semana, o que representa cerca de 1.250 corredores/ano. Esse número não é de surpreender, pois além da absurda e verdadeiramente incontrolada permissibilidade de medicação, há muitos detalhes importantes que são ignorados. Como, por exemplo, só para falar de um, passo a me reportar ao caso das ferraduras com agarradeiras. Em completa ignorância da parte técnica, nos Estados Unidos são colocadas ferraduras com agarradeiras também nos anteriores, ao contrário dos outros países que adotam esse expediente só nos posteriores. O problema é fácil de ser entendido. Quando o cavalo correndo coloca as mãos no chão, há um impacto de cerca de 550kg (mais de meia tonelada representada pelo peso físico do cavalo e mais o que ele carrega), caindo de aproximadamente ½ (um meio) metro ou mais de altura (os cavalos correm aos saltos), a uma velocidade média de 60km por hora. Com o natural cansaço na corrida, se no princípio da corrida ele coloca os anteriores no chão, com o crescente cansaço os anteriores são praticamente jogados no piso, e se não houver uma natural acomodação quando do impacto, o que as agarradeiras nas mãos não permitem pela fixação dos cravos no solo, o impacto torna–se muito mais violento, sobrecarregando articulações, tendões, ossos e musculatura, e uma consequência natural é uma fratura, uma forte distensão ou semelhante, obrigando até o sacrifício do corredor. Dentro do meu conhecimento, o único país onde são permitidas agarradeiras e que elas são colocadas nas quatro patas é os Estados Unidos, fruto da incompetência e do desconhecimento dos mais comezinhos detalhes na prática do turfe. Mas dentro da ótica turfística norte americana, a produção anual que já chegou a números maiores, que depois se estabilizou em 37 mil e que agora anda pela casa dos 29 mil, morrer 1.250 corredores por ano em absurdos, não é importante. Um país maravilhoso, riquíssimo e com um turfe tão desastrado.
Com o artigo intitulado “Drug Wars” e com as naturais decorrências que já estariam sendo consideradas, será que os nossos irmãos uruguaios, argentinos, chilenos e peruanos também vão se conscientizar e começar a modificar as suas habituais cópias das coisas negativas do turfe norte–americano? Duvido, na Argentina havia há pouco tempo, cerca de 100 (cem) treinadores punidos por medicação proibida, e as autoridades hípicas de lá sofrem fortes pressões de treinadores e até de veterinários, no sentido da liberação total da aplicação de drogas. Pelo rumo que das coisas, o Brasil e o resto do mundo de um lado, e do outro o Uruguai, a Argentina, o Chile, o Peru e os Estados Unidos.
No dia 30 de março de 2012, o The Jockey Club publicou nova regulamentação quanto a medicações. Será proibida a Furosemida (Lasix).
Aguardam–se mais esclarecimentos.

[ Escolher outro colunista ]


|