Colunista:
Floreando, por Milton Lodi 19/04/2012 - 16h00min
EVOLUÇÃO DA CRIAÇÃO NACIONAL – REGIÃO SERRANA FLUMINENSE
De uns tempos para cá, a realidade de evidente supremacia das ricas pastagens naturais do Rio Grande do Sul e também do Paraná fez com que criadores sediados no Rio de Janeiro e São Paulo migrassem com suas criações para regiões melhores. Assim, muitos foram para o sul, constituindo–se no cerne da criação brasileira. Hoje, e já de algum tempo, enfraqueceu–se a criação paulista, cresceu a criação do Mato Grosso do Sul com um só haras importante, mas bom ganhador e de grande porte em Ponta Porã, e a criação fluminense praticamente acabou. A criação fluminense foi boa de 1950/55, quando foi criado o Haras Vale da Boa Esperança, até o fim da década de 1960 e princípio de 1970, e a morte do criador Julio Cápua encerrou as atividades do seu Haras Vale da Boa Esperança. E foi aí que começou o Haras Santa Maria de Araras, que inclusive comprou em leilão de liquidação o garanhão Sabinus. De 1970 a 1980, o Araras dominou por completo a criação fluminense, e em 1980 nasceram no Rio de Janeiro os últimos produtos fluminenses do Araras, que foram então para o Paraná. Em 1980 nasceu a letra “O” no Rio de Janeiro, e a letra “P” já no Paraná. Em 1980, a ganhadora de G.2 Hula Hoop foi enviada para São Paulo para o garanhão Millenium, e de São Paulo foi cheia para dar cria no Haras Santa Ana do Rio Grande, em Bagé, e ser coberta por Waldmeister. Em 1981, nasceu Pallazzi, em Bagé (RS), e em 1982, Queribus no Paraná. O gaúcho Pallazzi foi um dos destaques da letra “P” do Araras, tendo inclusive vencido a milha internacional GP Presidente da República (G.1).
No Rio Grande do Sul, especificamente em Bagé/Aceguá, estão dentre outros instalados 16 haras. O Santa Amélia é tradicional local, assim como o Fronteira, o Espantoso, o Lorolú e o Bagé do Sul. Implantaram–se diretamente na região o Old Friends, o TNT e o Eternamente Rio. Do Paraná foram o Anderson e o Araras (que iniciou–se no Rio de Janeiro). De outros municípios gaúchos o Di Cellius e o Santa Ana do Rio Grande. De São Paulo foram o Mondesir e o Castelo. Do Rio de Janeiro foram o Nacional e o Doce Vale (que lá se chamava Rio Grande Agro Pastoril). Assim, os Haras Santa Amélia, Fronteira, Old Friends, Mondesir, Santa Ana do Rio Grande, Anderson, Castelo, Di Cellius, Lorolú, Nacional, TNT, Espantoso, Eternamente Rio, Doce Vale, Santa Maria de Araras e Bagé do Sul, em princípio esses 16, constituem o Grupo criacional mais ganhador em nosso país. O Haras São Francisco da Serra também participa do grupo, criando em terras do Haras Bagé do Sul e o Haras Regina nas terras do Haras Santa Ana do Rio Grande.
O Paraná tem através dos anos diminuído em quantidade o seu tradicional intenso brilho. Por um lado conta com as incontestáveis forças do Haras Santarém, e ainda do LLC (diretamente implantado no Paraná), do Haras Estrela Energia (que cria nas antigas terras do Haras Tributo À Ópera), dos Haras Santa Rita da Serra e São José da Serra (ambos oriundos das terras fluminenses). Por outro lado há um desânimo caracterizado por um tempo de espera por tempos melhores em função reflexa da triste situação do Jockey Club do Paraná, além do terrível baque na criação com a venda das boas terras do ótimo e vitorioso Haras J.B.Barros, que continua criando mas em menor intensidade nas antigas terras do Haras Pemale. A situação do turfe paranaense é ruim, e isso se reflete.
No Estado de São Paulo ainda há haras tradicionais que estão vivos e ganhando, como o Calunga, o Interlagos, o São Quirino, o Pirassununga e o San Francesco, entre outros, mas o ambiente criacional não é o mesmo de outros tempos. Mas com a nova e competente Diretoria do Jockey Club de São Paulo, o turfe paulista vai crescer muito, e o entusiasmo deve voltar.
O Estado do Rio de Janeiro não chega a contar com 50 reprodutoras, sendo que 30 são de um único haras (de padrão apenas razoável, se tanto). No início da criação fluminense, à base do natural entusiasmo, foram implantados cerca de 45 haras, uns poucos com muito sucesso como o Vale da Boa Esperança e o Santa Maria de Araras, e outros com resultados significativos como o Serra dos Orgãos, Santa Rita da Serra, Verde e Preto, Dar–El–Salam, Barra Nova e Rio Grande Agro Pastoril, principalmente esses. Na prática e na verdade, com a saída de cena do Santa Maria de Araras e o Vale da Boa Esperança, o sonho acabou. Pode–se dizer que a criação fluminense foi bem de 1950 a 1980, e depois entrou em franco declínio. Hoje, os iniciais 45 haras não passam de meia dúzia. Enquanto as terras fluminenses eram novas, naturalmente aproveitáveis, tudo foi bem, mas apesar das ótimas águas e clima, periodicamente a boa criação exige investimentos de alto custo, com a ração, calagem, adubação e plantio, e isso a cada 4 ou 5 anos, e os criadores não suportam ou não quiseram suportar as concorrências das ótimas terras naturais do sul do país, que requerem no máximo anualmente uma cobertura superficial de adubo, com isso mantendo a boa qualidade e o volume do bom capim. Além disso, os criadores fluminenses não dispunham e não dispõem de áreas de tamanho adequado. Simplística e tecnicamente calcula–se que um haras deve ter aproximadamente de 11/2 alqueire paulista a 4 hectares por égua. No Rio Grande do Sul isso é possível, mas no Rio de Janeiro não. O natural entusiasmo dos criadores leva a número excessivo de animais, e a habitual superlotação é ruim, falta espaço. Só como simples exemplo dentre outros que poderiam ser lembrados, o Haras Doce Vale tem, em números aproximados, cerca de 25 éguas, das quais só cobre anualmente umas 15, dando descanso às éguas para uma recuperação de gestação e amamentação, e tendo área para o triplo ou o quádruplo número de éguas, assim sobrando muito pasto, muita área, muito espaço, e o resultado é que esse haras é sem favor um dos destaques da criação brasileira.
A produção dos haras fluminenses nos últimos anos, digamos de 1980 para cá, não é significativa, e os resultados nas pistas também não.
Nos 30 anos dourados, de 1950 a 1980, o Haras Santa Maria de Araras dominou por completo, criou no Estado do Rio de 1970 a 1980, e produziu ganhadores de provas de Grupo como Freddy Boy (1), Latino (1), Leonino (2), Luksor (3), Never Be Bad (1), New Style (3), Ocelot (2), Old Master (1), On Set (2), On The Top (2), Horobiov (3), Hula Hoop (2), Jolie Reine (3).
O Haras Vale da Boa Esperança criou quando ainda não havia grupagem, mas aplicando–se prática, isto é, dando como provas de Grupo os grandes prêmios da época, também foi um sucesso.
– Hyperio (1) – Parnaso (1), Ribol (2), Sabinus (1), Sparkie (1)
Dos demais haras, há que se notar:
– Nove Horas (Fortuna) – 2, Danielito (São Miguel) – 2, Gold Pleasure (S.B do Alto) – 1, Cambrinus (Barra Nova) – 1, Pert (Brasa) – 3, Dalaba (Dar–El–Salam) – I, El Keats (Pelajo) – 3, For Merit (Rio Grande) – 2, Graphus (Rio Grande) – 1, Serradilho (São José da Serra) – 2, Daião (Serra dos Órgãos) – 1, Nagami (Verde e Preto) – 1, Brighton (Verde e Preto) – 2, Homard (Santa Rita da Serra) – 2, Leão do Norte (Santa Rita da Serra) – 2, Haretta (Santa Rita da Serra) – 2, Now Again (Santa Rita da Serra) – 2.
A presente relação pode não estar perfeita. Ela foi elaborada inicialmente pelo hipólogo Bertrand Joachim Kauffmann, depois foi submetida a confirmações pelos registros do Stud Book Brasileiro, e ainda é fruto de pesquisas junto a interessados como criadores, proprietários, turfistas em geral e também experts.
O turfe brasileiro não tem memória, cada dado e/ou informação é obtido com trabalho e esforço, e nem sempre se pode garantir. Mas se a relação não é perfeita, pelo menos está muito perto da verdade.
O presente trabalho teve por fim não só lembrar do aspecto de migração de haras importantes, como também deixar registrados os melhores resultados dos esforçados criadores fluminenses naqueles trinta anos quando houve resultados dignos de nota.
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