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Colunista:

Floreando, por Milton Lodi
26/01/2012 - 19h18min

CURIOSIDADES (II)

Scherzo era um bom cavalo sem ser de padrão clássico. Assim como todos os seus irmãos maternos, tinha gênio ruim. Um dia, o seu proprietário Roberto Seabra o vendeu para corridas de obstáculos na Europa. Era um cavalo de maiores distâncias e na nova função deveria se mostrar bom. No preparo da papelada para exportação, a Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional, a CCCCN, encrencou. A entidade, na qual sempre estiveram militares bem intencionados, mas nem todos do ramo, isto é, sem conhecimentos profundos do turfe e da criação do puro–sangue de corridas, entendeu que com aquele pedigree especial Scherzo seria um “raçador”, tinha que permanecer no Brasil para colaborar na melhoria da raça. O Roberto foi conversar com a CCCCN, mostrou que se era assim, nenhum produto nascido nos Haras Guanabara, Mondesir, São José & Expedictus e mais de uma dúzia ficariam proibidos de serem exportados. A CCCCN concordou, era isso mesmo, os “raçadores” não podiam sair do país. A civilizada conversa em nada de novo resultou, gente boa e bem intencionada que não era do ramo não entendia o mundo do turfe.

Passados quinze dias, o Roberto Seabra voltou à CCCCN. O Scherzo havia sido castrado, não podia mais ser um “raçador”, logo ele solicitava a devida liberação para a exportação. Não havia mais como negar, Scherzo foi exportado. São coisas como essas que atestam: que quem não é do ramo deve ficar quieto, e só se meter quando alicerçado por quem é do ramo.

Eu encontrei em cima de um móvel no escritório da minha cocheira em Cidade Jardim um “pôster” grande do cavalo Quartier Latin, uma das jóias da criação do Haras São Bernardo, que venceu por duas vezes do GP Presidente da República em São Paulo e outro tanto no Rio, em todas essas quatro milhas internacionais, montado pelo fenômeno Luiz Rigoni. Um irmão dos jóqueis Edson Amorim e João Manoel Amorim, que tinha sido o último treinador dos animais do São Bernardo havia mandado o “pôster” para o Bolino, pois a cocheira tinha sido esvaziada pelo término do haras e era melhor que aguardasse com o Bolino eventual aparecimento do Rigoni em Cidade Jardim. Eu avisei que ia levar o “pôster” para o Rio, e se o Rigoni perguntasse era só informar a ele que estava comigo. Entreguei o “pôster” a Bertrand Kauffmann e sugeri que ele fosse colocado na Tribuna Social. Na penúltima vez que o Rigoni esteve no Rio, eu o levei para ver o lindo “pôster”, Quartier Latin fazendo um galope de apresentação montado pelo lendário jóquei. O Rigoni gostou muito, disse que o “pôster” estava em um bom lugar. Quem freqüenta as arquibancadas do Hipódromo da Gávea pode ver, na lateral de um dos corredores do 2º andar, Quartier Latin e Rigoni.

Quem conhece o Haras Santa Ana do Rio Grande, em Bagé, certamente se lembra do Bosque das Caturritas, junto ao pavilhão dos garanhões. Em homenagem de quem gosta do turfe, lá estão enterrados garanhões que participaram da grandeza do Santa Ana. Ali estão Roi Normand, Falcon Jet, Waldmeister, St.Chad, Bowling, Carteziano e Mogambo, e em um gramado perto de um dos grupos de cocheiras das reprodutoras muitas das éguas clássicas, corredoras e mães, dentre elas Anilité. Todos tem uma lápide, assim como também no Mondesir, em estilo norte–americano, está o Ghadeer, e no Old Friends está Spend A Buck. O reconhecimento da qualidade, do valor e da contribuição para o sucesso só demonstra agradecimento, saudade e respeito.

Duas especiais mulheres de criadores foram fundamentais para a vida dos seus haras. D. Olympia Marchioni era casada com Dante Marchioni, do Haras Bela Vista, haras de muito sucesso à época. D. Olympia vivia no haras, acompanhava coberturas e nascimentos, cuidava dos potros em criação, fiscalizava o manejo, diariamente via todos os animais zelando para que nada faltasse. D. Olympia é uma figura relevante que não pode ser esquecida. Da mesma forma, em um haras menor, destacava–se como peça fundamental D. Hercília Guariglia, casada com Jacob Guariglia proprietário do Haras Dark Prince. De manhã à noite, dedicação total. D. Hercília Guariglia não pode ser esquecida.

Antonio Alves de Moraes gostava de jogo carteado e do jogo do bicho. Ele era um bom criador, Haras São Miguel Arcanjo. Um dia, para encontrar–se com os seus parceiros, foi de São Paulo para o Guarujá, quando o seu carro foi abalroado por um caminhão. O motorista ficou desesperado, assumiu a culpa, mas implorou para que o Moraesinho não cobrasse dele o prejuízo, ele estava mal de dinheiro, iria ser um grande problema na vida dele. O bom Moraesinho concordou, mas tomou nota da placa do caminhão. Chegando ao Guarujá, fez uma aposta firme no jogo do bicho com os números da placa. Foi uma tacada de mestre, ganhou muito dinheiro.

Farwell já nasceu grande, bem maior e mais pesado do que a média, e seguiu crescendo até um ano de idade, quando já parecia ter 2 anos. Para tentar conter o tamanho exagerado, o jeito à época foi tratá–lo com fortes doses de anabolizantes, de hormônios, na tentativa da consolidação prematura dos ossos. Isso em parte deu resultado, com 2 anos Farwell tinha desenvolvimento de 3 anos, mas não ficou gigante, antes um cavalo grande e forte. Foi um corredor extraordinário, invicto no Brasil e só perdeu duas vezes. Foram dois segundos lugares na Argentina, um para Escorial no GP 25 de Mayo em 1960 e outro no Pellegrini para Atlas, que como é sabido, pois foi constatado que Atlas corria dopado. Sem quaisquer deméritos para Escorial, Farwell não viajava bem, ficava com forte diarréia, e isso deve ser levado em conta nas suas duas derrotas. A enorme carga de remédios quando potro, inutilizou Farwell para a reprodução, ficou estéril.



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