









Colunista:
Floreando, por Milton Lodi 24/11/2011 - 10h10min
HARAS FECHADOS (VII)
O Haras Paulistano era de um criador tradicional que tinha, à época, a maior empresa de Cinemas de São Paulo, Paulo Sá Pinto chegou a participar da produção de filmes nacionais com sucesso, filmes veiculados pela sua rede de cinemas. Educado, simpático, agradável, rico, era casado, mas não teve filhos. Paulo Sá Pinto tinha um apartamento em Paris, para onde ia muito a mulher, que praticamente dividia o seu tempo entre São Paulo e Paris. Isso dava a Paulo uma liberdade maior. O seu haras, implantado no Posto de Monta do Jockey Club de São Paulo, em Campinas, utilizou–se muito das coberturas no Posto, principalmente de Coaraze que foi um macho, importante na criação brasileira. Era um haras respeitado, orientado por um proprietário inteligente. A falta de seguidores, filhos e o término do ciclo de vida do Posto, acabaram de vez com o Haras Paulistano.
O Haras Tamboré ficava nas cercanias da cidade de São Paulo. Era muito bem montado, e de propriedade de um homem ilustre, o Conde Silvio Alvares Penteado. Criou bons cavalos, na época heróica do turfe paulista, e ele, como alguns outros beneméritos, socorria com dinheiro próprio nos eventuais momentos difíceis do Jockey Club de São Paulo. O seu garanhão mais conhecido foi o Footprint, importado da Europa. A sua farda branca com braçadeiras pretas participava até de corridas na Gávea. Ele só teve um filho, que nunca demonstrou qualquer interesse pelo turfe. A cidade de São Paulo cresceu, e o Tamboré hoje é um bairro da cidade.
Antonio Álvaro Assumpção, o Dr. Antonico, era uma figura fascinante. Ele era irmão de Erasmo Assumpção, ambos do primeiro casamento, e eram muito unidos. Erasmo, o mais velho, era o líder e o Dr. Antonico um apaixonado irmão. Erasmo mandou Antonico para o Japão, viagem à época só de navio e que demorava um mês. Antonico recebia o café exportado por Erasmo e os irmãos ficaram ainda mais ricos. O Dr. Antonico morou no Japão por 10 anos, e quando voltou para o Brasil, entendeu que era o momento de dissociar–se do irmão nos cavalos, que eram todos em co–propriedade e em nome do Haras Jaçatuba. O Dr. Antonico comprou uma boa área no município de Itatinga, e lá montou o Haras Itatinga. Na época, o garanhão deles era Trunfo, muito bom corredor, e os dois irmãos queriam que o outro ficasse com ele, um querendo favorecer o outro. No final, nenhum deles cedendo, Erasmo disse então, que como chefe e irmão mais velho iria decidir. E decidiu dando o Trunfo para o irmão Antonico. Esse aceitou a decisão, e disse que, como o único dono do Trunfo, o dava de presente para o irmão Erasmo. E, assim ficou. O Dr. Antonico importou da Inglaterra o cavalo Shah Rook e, posteriormente, outro inglês chamado Christma’s Festival, um alazão. Shah Rook deu bons filhos, o alazão não foi tão bom, dava muitos animais que se lesionavam. O Dr. Antonico ficou muito doente, e encarregou um seu genro inglês para vender todos os animais e também o haras. O Dr. Antonico tinha uma filha, casada com um inglês e mais três filhos, e embora um deles fosse um apaixonado pelo turfe, o Dr. Antonico não quis que ele continuasse com os cavalos e com o haras. O Haras Itatinga virou fazenda de bois.
O Haras Pirajussara era de Tito Melo Zarvos, um descendente de gregos. Era um bom criador e também ótima pessoa. O seu haras ficava a centenas de quilômetros da cidade de São Paulo, perto de Urubupungá. A sua farda cinza, elos, mangas e boné vermelhos, frequentava habitualmente os programas das corridas de Cidade Jardim. Um dos melhores entre os muitos ganhadores clássicos criados por ele foi Cíncia, líder feminina de sua turma e que na reprodução foi mãe clássica. A mãe de Cíncia era Usité, uma filha de Wood Note de criação do técnico Haras Bela Esperança, égua que lhe chegou às mãos, através do treinador Pedro Gusso Filho. Tito Melo Zarvos acompanhava de perto o êxito da criação Seabra, e costumava comprar reprodutoras do Haras Guanabara. De repente, Tito Melo Zarvos parou de criar e de correr os seus cavalos. Foi uma grande perda para o turfe nacional e para os amigos.
Rocco Summa era um securitário de sucesso, e era um homem grande e forte, turfista participante, educado e gentil. Além de ter sido um dos sócios do Haras Jaguariúna, montou nas margens da Rodovia Castelo Branco o seu Haras Mundial, teve um relativo sucesso. Sofreu um derrame cerebral, teve melhoras, voltou à ativa, mas não resistiu por muito mais tempo. Um de seus filhos, de nome Ricardo Peixoto Summa, era por todos considerado um gênio na veterinária. Ricardo fez do Haras Mundial um Centro de Recuperação de cavalos de todas as raças. Era um brilhante cirurgião de cavalos e, durante 10 anos praticamente não saiu do Mundial. Além de seu imenso saber, ficou com uma prática incrível. Não tinha problemas financeiros. Foi para São Paulo e depois para o Rio, quando foi contratado como veterinário chefe do Jockey Club Brasileiro. Lá ficou por muitos anos, depois foi para Campinas (SP), para cuidar de cavalos árabes, sua grande paixão. Não sei por onde ele anda, mas mais de uma vez, disse que gostaria de se fixar como veterinário em Barcelona, na Espanha. E, o Haras Mundial ficou para trás, inerte para sempre.
No Paraná, houve época em que o Haras Palmital, do médico Antonio Jorge Ribeiro de Camargo pontificava. Produziu um corredor de exceção, Giant, tríplice coroado paulista. Assim como o pai dele, Cigal, tinha tendões muito ruins, mas Giant ganhava na qualidade. Antonio Jorge Ribeiro de Camargo foi vítima de um fato, que me parece inusitado. Um amigo do criador recebeu em, São Paulo, três potros do Palmital, um deles irmão próprio de Giant, e falsificou a assinatura do criador, transferindo a propriedade nos registros do Stud Book Brasileiro. O caso foi parar na polícia, houve processo judicial, perícias, depoimentos, e no final a Justiça devolveu a propriedade ao Palmital. Antonio Jorge Ribeiro de Camargo era bom médico e bom criador, mas não era uma pessoa muito simpática, nem todos gostavam dele, mas, parece–me, de modo gratuito. O Palmital acabou com a morte do criador.
O Haras Recreio tinha como proprietários dois irmãos, Jorge e Raul Cunha Bueno. Era uma propriedade bonita, com uma linda casa. Os irmãos criavam separadamente, isto é, cada um tinha as suas próprias éguas, mas se utilizavam em comum do reprodutor e da propriedade. Era uma criação ao estilo tradicional, o padrão era bom, o Recreio chegou a reproduzir ganhadores melhores como, por exemplo, Little Rose, boa ganhadora de provas nobres. O garanhão principal foi por muitos anos Royal Chief, e mais no fim o italiano Minotauro. Jorge e Raul não deixaram descendentes, o Haras Recreio, simplesmente, acabou.
Francisco Caruccio era um gaúcho de Pelotas, que venceu na vida as custas de muito trabalho honesto e esforços. Era um turfista apaixonado, um carreirista no dia a dia, e um dia resolveu implantar um haras próximo da sua cidade natal. Assim, nasceu o Haras Santa Bárbara do Sul. Para garanhão Francisco Caruccio foi buscar na Argentina o bom corredor New Year. À época, os cavalos argentinos exerciam grande fascínio sobre os gaúchos, que habitualmente iam buscar na Argentina cavalos melhores, melhores que os nacionais, o que representava a verdade na prática. New Year foi para Porto Alegre, e chegou a ganhar o GP Bento Gonçalves, mas acabou sendo desclassificado a favor do 2º colocado, o ótimo Secreto, que corria com a tradicional farda preta com boné encarnado, do Ministro Oswaldo Aranha. Francisco Caruccio sentiu–se prejudicado, injustiçado e tirou o cavalo de Porto Alegre, enviando–o para o Hipódromo da Gávea e Cidade Jardim. New Year terminou a sua campanha nas pistas chegando em 3º no GP São Paulo, vencido por Fumo, em raia alagada. Nessa corrida New Year sentiu de uma antiga lesão nos joelhos. Foi então para Pelotas, no Santa Bárbara do Sul. Foi bom garanhão, e um dos seus mais conhecidos filhos foi Farinelli, grande ganhador na Gávea e recordista por muitos anos dos 1.600m. Deixou também uma boa égua que produziu muito bem no haras do saudoso Gustavo Philadelpho Azevedo, em Teresópolis. Com a morte de Francisco Caruccio e de New Year, os filhos resolveram continuar, e foram a Roberto Seabra tentar comprar um bom reprodutor. A opção era o inglês Sahib, que havia sido trazido para o Brasil pelo príncipe Aly Khan e o bom nacional Radar. Sahib foi para Pelotas, e simplesmente, nada deu que prestasse, insucesso total, quebrou o haras e, como os negócios também não estavam mais em ótima fase, fechou–se para sempre o Santa Bárbara do Sul.

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