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Colunista:

Floreando, por Milton Lodi
15/09/2011 - 13h17min

HARAS FECHADOS (I)

Um turfista gaúcho fez chegar às minhas mãos um e–mail, no sentido de sugerir artigos referentes a Haras que encerraram as suas atividades criacionais. É um tema ao mesmo tempo interessante e triste, pois grandes e importantes nomes da criação brasileira não estão mais na ativa da produção dos cavalos de corrida. Mas é preciso entender que as coisas passam, se modificam com o correr do tempo, uns morrem e outros nascem.

Mas o ilustre turfista gaúcho tem razão em deplorar a definitiva inatividade de alguns muito importantes Haras, e ele citou em particular o nome do Haras Jahú.

O Haras Jahú, berço de corredores de alta expressão como dentre eles o fantástico Farwell, iniciou criando para os irmãos João Adhemar de Almeida e Nelson de Almeida Prado. Ficava em Cotia (SP). O responsável pelo haras era Roberto Prado Telles, e o supervisor técnico o bom veterinário de cavalos Fernando Pereira Lima. Nelson ia um dia por semana ao haras, que não tinha sede social, mas apenas uma pequena casa que funcionava como escritório. Nelson controlava as contas, era homem extremamente organizado, correto, eficiente em todas as suas atividades, inclusive, como um dos donos do Banco de São Paulo. João Adhemar não ia ao Jahú, era diferente de Nelson, João Adhemar era um líder, amigo de todos, presidia o Banco como homem de negócios e sempre amigo dos amigos, e Nelson o assessorava no controle financeiro e na organização, conforme tinha aprendido em curso especializado na Alemanha. Os dois irmãos eram muito amigos, a palavra de cada um era completamente respeitada pelo outro, nunca brigaram, eram amigos de verdade, Nelson levava uma vida discreta, como João Adhemar era muito tímido, e vivia com a mulher Guanahyra em uma ótima casa no bairro do Morumbi.

O banco e as corridas ocupavam seu tempo. João Adhemar era mais sociável, jogava cartas com os amigos na hora do almoço, trabalhava muito no banco, mas gostava do prestígio do fato de ser a figura central do turfe paulista. Ele era casado com Esther, uma argentina, boa companheira e morava com o marido em um amplo e ótimo apartamento no bairro de Higienópolis. João Adhemar e Esther gozavam de enorme prestígio, e com João na Presidência do Jockey Club de São Paulo, inevitavelmente, tinham que participar de eventos, de festas, de promoções e, João Adhemar, mesmo muito tímido, se soltava com muito bom humor quando relaxava com os amigos. Com o tempo, João Adhemar e Esther entenderam de montar um outro haras.

O Jahú não tinha acomodações sociais, era uma pequena fazenda com terreno não plano, e não havia sequer como dormir lá. Além disso, o número crescente de animais, em função do sucesso na criação e nas corridas, demandava mais espaço físico. Foi aí que, João Adhemar instalou no município de Paulínia, junto a Campinas, o seu modelar Haras Rio das Pedras. Enorme casa estilo colonial, cascata artificial que era iluminada à noite, pista de pouso para pequenos aviões que terminava, ou começava ao lado da linda piscina, enfim, uma super fazenda confortável.

Os animais continuaram de sociedade dos irmãos, foram divididos em número igual, e passaram a correr como Haras Jahú e Rio das Pedras, sempre com a farda cinza e verde em listas horizontais. O sucesso continuou, era uma só coudelaria dos dois irmãos parceiros e amigos. João Adhemar e Esther usufruíram o lindo haras, levando amigos para aquele pequeno paraíso.
Um detalhe importante e curioso é que os dois irmãos não tiveram filhos.

Um dia, Nelson foi de avião a uma enorme fazenda que ele tinha em Araçatuba. O avião caiu, Nelson morreu. Eu fui ao velório dele, que ocorreu na sala principal de sua ótima residência. João Adhemar estava arrasado.

Iniciou–se então um processo de separação, de um lado Guanahyra com o Jahú e metade dos animais, do outro João Adhemar e Esther com o Rio das Pedras e a outra metade. A divisão foi feita amigavelmente, e a bondade e a amizade que João Adhemar tinha pelo irmão deram teóricas vantagens para Guanahyra, sempre escolhendo na frente o que achava melhor. João Adhemar concordou com tudo, até a gloriosa farda ficou para Guanahyra. João Adhemar e Esther registraram uma outra, rosa, cruz de Santo André e boné verdes.

Um ano depois, o Rio das Pedras seguiu ganhando bem, e o Jahú não. O tempo foi passando, e um dia João Adhemar foi se encontrar com Nelson. Guanahyra adoeceu, vendeu os animais e fechou o Jahú. Esther fez o mesmo com o Rio das Pedras.

Em resumo, foi o que aconteceu com os gloriosos Haras Jahú e Rio das Pedras. É um fato muito deplorável, mas é a seqüência natural da vida.

As duas propriedades vendidas foram descaracterizadas, consequência triste, mas natural.
Assim como o ilustre turfista gaúcho falou do Haras Jahú e eu aproveitei para também falar do lindo Rio das Pedras, vou continuar com o assunto em próximos artigos. Há uma grande quantidade de haras que tiveram grande importância e que encerraram as suas atividades criacionais em definitivo.



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