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Floreando, por Milton Lodi 31/03/2011 - 09h43min
Eleições no Jockey Club de São Paulo
Conforme previsto, realizaram–se no dia 15 de março de 2011 às eleições no Jockey Club de São Paulo. Esperava–se uma disputa renhida, pois tanto a situação quanto a oposição empenharam–se ao máximo.
Detalhes importantes desde o início do ano de 2011 começaram a dar sinais do resultado da eleição em março. O JCSP negou–se a cumprir as normas ditadas pela Associação Brasileira no que diz respeito às premiações das provas nobres, e um mês antes do pleito voltou atrás, declarou enquadramento inclusive retroativo desde 1º de janeiro. Essa completa troca de direção levantou duas evidentes hipóteses. Ou era uma forma de agradar os eleitores turfistas, ou o entendimento de derrota nas eleições, jogando nas costas da então oposição o peso financeiro da medida. Outro detalhe significativo foi a negativa da totalidade da Comissão de Corridas em participar da chapa governista, há muito inconformada com intromissões políticas e técnicas estranhas ao setor da comissão que vinham deturpando a prática desejada. A inconformidade era de tal ordem que três comissários da situação não só negaram–se como os outros a participar da chapa da oposição. Esse detalhe importante mostrava que na situação as coisas não andavam bem. Faltando duas semanas para a eleição, inopinadamente o JCSP equiparou as dotações dos páreos comuns aos do Jockey Club Brasileiro. Mas se os prêmios eram menores por falta de recursos, como se justificaria o aumento? Só haviam duas hipóteses. Ou o JCSP tinha os referidos recursos e os negava aos criadores, aos proprietários e aos profissionais, dando absurda prioridade a atividades não turfistas, ou não haviam os tais recursos, e o aumento ficaria para a nova Diretoria.
Qualquer das duas hipóteses não era bonita, e ainda demonstravam preocupação com iminente derrota. Além de tudo, havia uma premissa estatutária, que explicitamente impedia a validade da chapa da situação, pois nomes ilustres mas inelegíveis estatutariamente não tinham direito ao pleito. Mas qual o sentido disso? Claro, o intuito era de provocar atitude da oposição inclusive na justiça, e a morosidade dela naturalmente prorrogaria o mandato dos situacionistas. Ficou então um dilema para a oposição. Ou ia para a justiça, com isso prorrogando o mandato da situação, ou ia para as urnas, repetindo o que havia ocorrido quando da última eleição do Jockey Club Brasileiro, quando a situação incluiu na sua chapa nomes sem a concordância e as referentes assinaturas. No Rio, a oposição resolveu ir para as urnas de qualquer maneira, e infelizmente perdeu as eleições.
Mas em São Paulo a então oposição montou uma fortíssima chapa, constituída em sua grande maioria pelos criadores e pelos proprietários. Aqueles que dão sustentação ao turfe, aqueles que vendem e compram, que investem, que pagam as contas. Do outro lado a então situação, certamente com nomes ilustres mas que não eram do ramo, mostrava debilidade, mostrava–se fraca.
Nos últimos anos, muitos sócios deixaram de freqüentar o clube e conseqüentemente deixaram de pagar as taxas mensais, mostrando–se claramente em desacordo com a linha político–administrativa–técnica, no sentido de privilegiar eventos e festas em detrimento do turfe, àquela altura relegado a plano menor. Assim só 1.302 sócios chegaram à eleição com direito a votar. Os entendidos no assunto alvitravam uma abstenção da ordem de 40% (quarenta por cento). Foi o que se verificou na prática, e foi isso que aconteceu, votaram 768 sócios, tendo a então oposição 498 votos contra apenas 270 da então situação. Vitória esmagadora, insofismável, refletindo a insatisfação do quadro social com a política de inversão de valores, de direitos.
Há uma grande diferença entre os quadros sociais do JCSP e o do JCB. Em São Paulo há a compreensão que o Clube é visceralmente de corridas, o turfe é a base e a essência do Clube, e os criadores e proprietários são entendidos como os merecedores maiores, enquanto que no Rio a grande maioria entende que o Clube é uma entidade de beira de praia, corridas são apenas diversão de uns poucos e o que interessa são restaurantes, ar refrigerado, piscinas, quadras de tênis, em resumo um Clube como outro qualquer que tem o lazer como principal objetivo.
O Turfe Paulista que estava relegado a plano inferior, com a nova Situação vai ressurgir. Pode não haver uma reação imediata, mas a perspectiva de quase 65% (sessenta e cinco por cento) dos sócios que votaram é a volta de um turfe forte, digno de um centro turfístico de grande tradição e qualidade.
No Rio onde praticamente não há criação, não chega a 5% (cinco por cento) o número de sócios proprietários de cavalos, e naturalmente os outros 95% (noventa e cinco por cento) prevalecem nas eleições.
No Turfe Paulista, o turfe estava sufocado, mas agora, em mãos daqueles que são do ramo, vai voltar certamente para o seu natural e merecedor prestigiamento.
O gigante, que estava quase deitado, vai se levantar.
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