









Colunista:
Floreando, por Milton Lodi 24/02/2011 - 10h25min
Pequenas histórias tristes
Nas cidades, as delegacias e o habitual policiamento são relativos empecilhos para os marginais, não eliminam mas pelo menos dificultam as ações dos bandidos e com isso diminuindo a criminalidade mas fora das cidades, nas zonas rurais, a situação é diferente. E os haras são habituais vítimas. Mesmo aqueles que ficam perto de cidades de médio porte são “visitados” pelos bandidos.
No Estado de São Paulo, mesmo aqueles que ficam perto de cidades como Campinas e Americana há problemas. Após cada assalto à sede de seu haras, o proprietário vai à delegacia da cidade mais próxima, e o resultado prático é nenhum. O delegado vai à sede da propriedade ver o que aconteceu, e nada mais, alegando que a única viatura está quebrada, e se não estivesse também não adiantaria pois não havia dinheiro para gasolina, como também era comum não haver verba para a compra de balas para as armas de um detetive e de um cabo. A inoperância é total. Após cinco assaltos, após o roubo de televisões, roupas de cama, tudo que havia nos armários, como agasalhos, talheres, pratos, copos, panelas, tudo que era possível ser levado, não ficava.
No escritório da sede, onde ficavam material de contabilidade e um antigo cofre, o grande peso foi solucionado com a explosão com bananas de dinamite, que mostraram lá haver guardadas medalhas de prêmios e outros objetos de valor apenas sentimentais. O proprietário, quando da última vez, foi chamado a delegacia. Havia sido interceptado pela polícia de cidade grande próxima um carro abarrotado de material suspeito, os ladrões já tinham sido presos, e identificado o proprietário lesado. Ele foi lá, e viu que o que poderia ter algum valor mas lá já não estava. Pediu que fosse distribuído aos pobres o que sobrara, e foi embora. Vendeu a propriedade para um vizinho, que transformou o haras em campo de golfe e áreas de lazer, circundando o ex–haras com muros de mais de 2 metros de altura, e mantendo um patrulhamento de 24 horas com um fusca com dois homens armados. Isso deu fim inclusive a ataques de estranhos que roubavam os empregados e assediavam suas mulheres e filhas.
Ainda no Estado de São Paulo, um criador tinha alguns cavalos de montaria para os filhos, que gostavam muito de ir lá montar sempre que possível. Mas desses passeios também sempre participava um empregado armado com uma espingarda, os meninos e adultos passeavam só dentro da propriedade e escoltados por guarda armado.
Não sei se quase todos, mas muitos dos haras foram vítimas de assaltantes violentos, inclusive amarrando pessoas por várias horas. Poderia citar com certeza os Haras Guayçara, Ipiranga e Torrão de Ouro, entre outros.
No Estado do Paraná, um haras tinha sistematicamente roubados à noite os cabrestos (buçais) dos animais que ficavam soltos à noite, e o crescimento das violências terminou com o encerramento das atividades do haras. Não foi só aquele, criadores que moravam no próprio haras tiveram que se mudar para a cidade de Curitiba, pois a sede foi invadida e toda roubada.
No Estado do Rio Grande do Sul, não há que eu saiba abusos dessa ordem, mas nas regiões mais ao sul na direção do Uruguai, favelas começaram a se aproximar dos campos dos haras, onde além de cavalos há bois e ovelhas. Começaram então os roubos. De manhã, bois e ovelhas apareciam descarnados, e com a escuridão da noite e a extensão dos campos, não havia controle. A solução foi simples, os próprios empregados que moravam na propriedade, ante a iminência da violência, ficaram a espera dos bandidos. O problema deixou de existir, a partir do dia em que dois ou três ladrões amanheceram mortos.
Com o correr dos anos, houve melhoria nas precárias condições de delegacias do interior e também nas condições daqueles que trabalham encarregados da segurança geral, mas a marginalidade também cresce.
É um problema de não fácil solução.

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