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Floreando, por Milton Lodi 23/09/2010 - 10h26min
Bagé/Aceguá – 16.07.10
Na fria tarde de sexta–feira 16 de julho, na arena de vendas da Rural de Bagé, realizou–se o leilão da liquidação total do plantel do vitorioso Haras das Estrelas. Um catálogo honesto, com informações corretas, apresentava 109 lotes, dos quais um não compareceu por motivo de força maior, mas anunciada a sua posterior oferta logo que possível e diretamente. Dos 108 lotes oferecidos, um deles foi em oferta virtual, foram 5% (cinco por cento) do garanhão Choctaw Ridge, que é sediado no Haras San Francesco, em São Paulo. Os três garanhões oferecidos alcançaram preços condizentes com o atual mercado, com Pioneering sendo arrematado pelo Haras Santarém, do Paraná, o mais alto preço da venda. Holzmeister ficou para o Haras Di Cellius, de Bagé, e Dancer Man para o uruguaio Haras Cuatro Piedras. Aliás, 20% (vinte por cento) dos 168 lotes oferecidos vão, ou já foram para o Uruguai.
Às 13 horas iniciou–se um agradável almoço, e o serviço oferecido aos presentes perdurou até o encerramento do evento, e o excelente vinho tinto ajudou a suportar o intenso frio.
No final, às 19 horas, os termômetros marcavam 0 grau. O frio intensificou–se a partir das 16:30 horas, e quem aparentemente com ele mais sofreu foi o melhor de todos os leiloeiros, Nilson Francisco Genovesi, sem poder beber nem se proteger, que teve magistral atuação. Deu uma soberba demonstração de conhecimentos e de técnica, e foi um ótimo coadjuvante para o sucesso das vendas, que atingiram 3,1 milhões e preço–médio em torno de 28,5 mil. Além do Uruguai, compareceram interessados do Rio Grande do Sul, do Paraná e de São Paulo. O leilão foi um merecido sucesso, não só pela qualidade apresentada como também pela fidalguia e simpatia da família Lima.
Foi mais um êxito da A.P.P.S (Agência Paulista do Puro Sangue).
Na cidade de Bagé há uma Faculdade de Veterinária importante, e é cursada por interessados de todos os lados inclusive do Uruguai. Muitos veterinários que trabalham nos bons haras da região se formaram e ficaram, constituindo família e se enraizando. Assim, é um grande número de profissionais do ramo, que muitas vezes se iniciam como estagiários, e aprendendo na prática com os gabaritados e experientes responsáveis diretos pela sanidade, e pelo manejo de garanhões, reprodutoras e produtos. Logo que entram em período de férias de meio do ano, estudantes são acolhidos pelos haras, e durante todo o período em que não há aulas acompanham e ajudam em exames, em partos, em todas as atividades dos haras.
Na verdade, é quase um teste de amor à nova profissão, pois em Bagé/Aceguá é período de frio, chuvas e eventuais ventos. Quando há simultaneamente chuva e vento, com os termômetros baixando de 0º graus, é preciso gostar muito para sair da cama de madrugada para ajudar em partos, que muitas vezes ocorrem na mesma noite, e a natureza, caprichosa, espera que todos voltem para a cama e só depois outra égua inicia os trabalhos de parto. O amor à profissão e uma boa cuia de mate amargo fazem parte do processo. Não há nenhum drama nisso, os vigias– noturnos ("serenus", como são chamados na Argentina) trabalham bem agasalhados, há sempre uma água bem quente para o indispensável chimarrão, os boxes das maternidades com boa cama, iluminação adequada, e com todo o material necessário em perfeitas condições e à mão para ajudar as mães e os partejadores a fazer nascer um puro–sangue de corridas. É um dos momentos mais emocionantes proporcionados pela Natureza, mesmo para aqueles que deles participam corriqueiramente. Depois que tudo acaba, com o potro ainda bamboleante instintivamente começando a mamar, reina um clima de satisfação, de bom astral.
A partir de julho, só nascimentos, e em agosto se inicia a época do amor e de suas conseqüências. Nos haras maiores, aqueles que sediam garanhões importantes e muito compromissados, ou naqueles em que trabalham vários, a rotina é intensa. De manhã e à tarde, coberturas, e à noite, partos. Agregue–se a isso a necessária cuida rotineira dos animais e da propriedade, é época de intenso trabalho e responsabilidade.
É claro que nem tudo corre como se desejaria. Casos complicados, momentos difíceis, eventualmente receberem ajuda de veterinários de outros haras. Isso não é corriqueiro, pois cada haras tem como enfrentar os problemas, mas há um sentimento de colaboração quando necessário.
Não é a toa que Bagé/Aceguá produz anualmente um terço da produção nacional de cavalos de corrida.
Bagé/Aceguá é um show.
(Transcrito da Revista Turf–Brasil)

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