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Floreando, por Milton Lodi 16/09/2010 - 17h39min
Turfe – Histórias e memórias
Sob o título “Turfe–Histórias e Memórias”, o hipólogo Samir Abujamra lança no mês de setembro uma especialíssima publicação que após 2 anos de estudos, pesquisas e trabalhos, vem ao domínio público não só para satisfazer os turfistas de um modo geral como aos criadores e proprietários em particular, como também para resgatar uma parte de enorme lacuna no setor. No turfe brasileiro não há livros e publicações especializadas para suprir os naturais anseios dos turfistas. Por volta de 1950, a francesa “Courses Et Elevage” e a inglesa “The British Race Horse” eram as “bíblias”, criadores, como por exemplo o melhor de todos José Paulino Nogueira, tomavam conhecimento do que havia de resultados clássicos e importantes no mundo do turfe (Inglaterra e França eram os dois destacados pólos turfísticos do mundo), e as cruzas, os sangues em evidência, as fotografias dos campeões, os artigos de competentes conhecedores, tudo correndo para que o Brasil e o mundo tomassem conhecimento do que ocorria de bom no universo turfístico. José Paulino Nogueira, o mais técnico dos criadores brasileiros, “radiografava” os pedigrees nas tábuas de Bobinski, que era um trabalho de grande profundidade e que cuidava especificamente das linhas maternas, as suas produções clássicas. Era um trabalho de repercussão mundial, e que servia de orientação aos criadores melhores. José Paulino Nogueira e mais uns poucos criadores eram assinantes das duas mais importantes publicações turfísticas da época, e com as tábuas de Bobinski planejavam as importações de garanhões e matrizes. Havia em Londres um inglês, que morava em um clube e que entre as suas atividades diárias principais, bebia whisky e ia as corridas. Walter Noble sabia distinguir qualidade, e mesmo ante a brutal diferença entre os poderes aquisitivos os criadores brasileiros com referência aos dos grandes criadores europeus, sabia do potencial dos corredores que mesmo com qualidades por motivos vários, não haviam atingido o estrelato. Walter Noble recebia encomendas dos brasileiros para a compra de cavalos e éguas para a reprodução e com os seus conhecimentos de pedigrees e tipos físicos, frequentando assiduamente as corridas, sabia dos potenciais. José Paulino Nogueira, que dizia só respeitar em termos técnicos o criador Henrique de Toledo Lara, encomendava por exemplo ao inglês “um cavalo da linha alta de Solário” (veio Tintoretto), uma égua de específica linha materna, que estava produzindo animais clássicos e que cruzava bem com os seus garanhões conforme os seus estudos, e assim chegou a um destaque impressionante, com um haras de 20 éguas criava anualmente campeões como Garbosa Bruleur, Jocosa, Hamdam, Zenabre, e muitos e muitos outros campeões, isso sempre dentro de limites financeiros que só permitiam compra de animais sem campanha meritória, de preços baixos dentro do padrão financeiro mundial. José Paulino Nogueira teve em Samir Abujamra o melhor de seus discípulos, e que visitava regularmente o seu mestre mesmo na fase final da vida do grande criador. Isso resultou para Samir Abujamra, além de profundos conhecimentos através de próprias anotações, boa parte da experiência do mestre. Os anos se passaram, apareceram outras publicações importantes como dos Estados Unidos e da Argentina, o Brasil mesmo publicou pelo Jockey Club de São Paulo e pela Associação Brasileira revistas de muito bom padrão técnico, e Samir Abujamra seguiu se atualizando e passou a gerenciar importações e exportações de cavalos e éguas. Para se resumir ao máximo as decorrências, bastaria lembrar que foi através dele que foram importados Ghadeer e Roi Normand, e dentre as exportações a única venda de um cavalo brasileiro para a Rússia.
Homem de fino trato e com bom relacionamento em todas as áreas turfísticas, Samir Abujamra lança agora o seu primeiro livro.
Quem não se interessar vai ficar sem saber de muito da essência do turfe brasileiro, sob os olhos de um expert.

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