Páreo Corrido, por Paulo Gama [18/02/2025]
ALTOS E BAIXOS NA ROTINA DO TURFE NACIONAL
A minha carreira profissional de cronista de turfe teve início no extinto, Jornal do Brasil, em dezembro de 1982. Portanto, lá se vão 42 anos de estrada. O editor de turfe era o saudoso Marcos Ribas de Faria, autor da coluna, Volta Fechada, que ele assinava com o pseudônimo, de Escorial. Com a autoridade do nome do craque do Stud Seabra. Afinal, Marcos era um dos chamados "Seabra’s Boys", na Tribuna Social do JCB. Os hipódromos da Gávea e de Cidade Jardim, os mais importantes do país, tinham semanalmente mais de 40 páreos, distribuídos, em quatro reuniões. No sábado e, no domingo, eram 12 páreos, em cada dia. E, na quinta e segunda-feira, as noturnas complementavam a jornada, com mais 10 provas, em cada uma corrida. Um total de 44 páreos. Hoje em dia, quatro décadas depois, temos uma minguada reunião de 9 páreos, nos sábados em Cidade Jardim. E, 17 ou 18 na Gávea, com dois dias de corridas. E, algumas vezes, 26 ou 27, quando se consegue três reuniões.
A população de puros-sangues de corridas no Brasil diminuiu com o passar dos anos. A criação nacional conseguiu manter qualidade através da viagem do tempo. Porém, em termos de quantidade, despencou. Poucos cavalos proporcionam poucas corridas. E se acaba o milho, também vão embora as pipocas. Esta impiedosa equação biquadrada estabelece na sequência a queda do Movimento Geral de Apostas nos hipódromos nacionais. E, também, no desaguar das águas deste rio, a queda dos prêmios para os proprietários dos cavalos, e, dotações inexpressivas para a principais provas do calendário clássico. Nos tempos das minhas primeiras caminhadas com repórter do JB, tínhamos espaço na mídia escrita, televisada e no mínimo duas rádios, transmitiam às corridas. As arquibancadas lotadas de Cidade Jardim e Gávea aplaudiam lendas das rédeas do turfe nacional, como Gabriel Meneses, Juvenal Machado da Silva, Antônio Bolino, Gonçalino Feijó de Almeida, Ivan Quintana, Albênzio Barroso, e surgiu o fenômeno, Jorge Ricardo.
O tempo passou. Entramos na era digital. A redação do JB trocou as máquinas de datilografia pelos computadores. Craques da redação, na editoria de esportes, tais como João Saldanha, Sandro Moreira e Oldemário Touguinhó, depois de muita reclamação aprenderam a lidar com o Windows. Depois o jornal que tinha a coluna de política do Castelo, e a constelação de jornalistas esportivos, deixou de existir. Mas houve tempo para o João Saldanha, a pedido da diretoria, dar um pulo na Gávea, conhecer Itajara, e escrever o inesquecível texto. "Itajara, o cavalo do povo". Apaixonado pelo esporte que o fez perder uma única Copa do Mundo, por causa de uma cancha reta, em que tinha um cavalo de sua propriedade inscrito, o João ficou encantado com o craque dos Haras São José e Expedictus. E, surpreso com a multidão presente para assistir um Derby. Que saudade daqueles tempos. Desculpem o saudosismo do cronista. São tempos que não voltam mais.
JOÃO VICTOR SEGUE DOMINANTE
O aprendiz e líder da estatística, João Victor manteve a ponta da tabela de jóqueis. As montarias distribuídas e ele ganhou três páreos no domingo, e, mais dois, na segunda-feira. A ausência de Leandro Henrique, lesionado, foi bem aproveitada por ele, e, também por Henderson Fernandes, e Vagner Borges. A divisão de tarefas terá este diagnóstico, com algumas pitadas eventuais de Bruno Queiroz, sem dúvida, um bom jóquei também. E de Wesley Silva Cardoso, quando estiver mantendo as pazes com a balança.
FRANCISCO LEANDRO
Na Argentina, o nosso compatriota, Francisco Leandro, segue dando as cartas. Tem montado menos, feito incursões esporádicas até Dubai, e dando show nos hipódromos portenhos. Já soma 54 triunfos em menos de 2 meses de corridas em 2025. Um absurdo sua produtividade, sobretudo e San Isidro e Palermo. Em La Plata tem ido menos. Quando resolve aparecer é dia de bingo. É só apostar por que colocaram umas duas ou três barbadas para ele montar.
SÓ 17 PÁREOS NA GÁVEA
Com este calor avassalador na cidade do Rio de Janeiro não tem sido nada fácil para a Comissão de Corridas promover páreos na Gávea. As duas corridas noturnas desta semana têm apenas 9 páreos, na segunda, e, mais 8, na terça-feira. Este negócio da temperatura bater 40 graus para cima não combina com cavalos de corrida. Existe uma doença, chamada Anidrose dos Trópicos, que ataca os bichos, e alguns deles, logo param de suar.
PURO SANGUE MELHOR APRESENTADO
Endless Love, da parceria Stud Hulk, JCR e Oitavo, treinamento de Vítor Paim, e montaria de Jorge Ricardo, foi mais uma estreia auspiciosa da nova geração. E teve um contratempo durante a preparação. Vai longe nas pistas.
JOQUEADA DA SEMANA
The Good Friend, do Haras das Estrelas, foi bem-apresentado por Dulcino Guignoni, e teve direção impecável de João Victor, numa prova em que tinha bons rivais pela frente. Calmo, técnico e preciso, ele corre com muita confiança e com certeza vai dar enorme trabalho aos rivais na ausência das pistas de Leandro Henrique.
PERSONAGEM
Henderson Fernandes segue empenhado em conquistar pela terceira vez a estatística. Tem montado com entusiasmo, raça e foco absoluto. Tem uma pedra no meio do caminho. Como escreveu na poesia, o poeta, Carlos Drummond de Andrade. Trata-se do aprendiz pernambucano. Mas o duelo entre eles será dos mais interessantes até o final de junho.

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